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- O círculo vicioso
Acaricia minha pele como um raio de sol às quatro da tarde como o leito limpo depois da farra a água fresca depois do carnaval o banho depois do sexo a chuva depois da seca. Gasta meu verbo com o flerte com a opinião a imposição o ego, a perda de tempo. quando o silêncio custa caro. Testa minha tolerância quando invade meu terreno quando bagunça meu terreiro remexendo as gavetas lendo os bilhetes opinando sobre as cores, os decotes, e os sabores que devo provar, alugando o meu ouvir. Viaja pelos meus poros e passeia pelos contornos dançando delicadamente, cada nota e cada ato cada respiro faz padecer, morrer lagarta para nascer borboleta, acariciar a pétala, e espalhar vida.
- Vazio
Antes era o perfeito. O completo. O repleto. Infinito pleno, a liberdade para ser. O conforto do abraço, a brandura do estar, o voar sem motivos para pousar. A claridade, o porto seguro, o convés, e a paz. Transtorno não poder te ver no meu tempo, me corta a razão de ser. O escuro, o finito, o incompleto, a história zerada sem eu saber. Pedir e não ter. Rasga a noite em dois ver que tudo se foi, e que o sempre não vai ser, o nunca ganha uma sala, e quase nada para acontecer. Desvia e me desafia, no deslize e no delirio de esquecer, Uma imensa quimera que não dispara o estopim da vontade de viver. Fim de tudo, fim do bom. Fico cego, fico inerte, na marcha ré, no padecer. E tudo desaba, apagam-se as luzes, e fecha-se o cenário deste singelo ato, Você vai embora, caminha para o azul, some das minhas pupilas, não se vira, nem diz adeus.
- Simplicity. Complexity.
Simplicidade. Simplicidade. Sim eu gosto. Gosto do jeito que você me olha. Com aqueles olhos que me encaram, me surpreendem. Você me toca a quilômetros de distância. Sim eu gosto. Gosto do seu cabelo, dos seus lábios, do seu toque. Suas mãos, sua voz, sua boca. Complexidade. Complexidade. Em todas as sinapses e sinopses da vida. O percurso, as lembranças, o desejo inquieto, o encantamento. E sim, eu gosto, gosto do jeito que você me olha. O jeito que você diz, o jeito que você toca, o jeito que você beija, o jeito que você ri. Entre suas mãos e seus dedos, sinto-me completo e inteiro novamente. Sinto sua falta do outro lado da porta. Sinto sua falta aqui quando você nunca chega. Sim, eu gosto do jeito que você toca minhas mãos e fala, fala, fala. Gosto da maneira como você me inspira a fazer, fazer, e a ser. E sim, ah sim, eu sinto, sinto seu cheiro em mim... penetrando pelos meus poros, um ser vivo parte da minha pele, suave, profundamente, fortemente. Sem chance. Não dá para escapar. Não sinto falta da sua presença noturna e diária, nem de você voltando do trabalho. Não sinto falta dos nossos passeios de bicicleta pela manhã, e nem do café na padaria no domingo ensolarado. Não sinto sua falta na plateia quando estou dançando, nem da massagem quando meus pés estão exaustos. Eu não sei o que é. Apenas sinto falta do jeito que você me toca. Sinto falta do jeito que você me beija. Sinto falta do que sinto quando você está perto. Sinto falta da sua respiração. A falta do teu riso alto. Sinto falta quando você me olha, me despindo com os olhos. Sinto falta do seu abraço quente, e do seu sono confortável. Sinto sua falta, aqui, bem aqui, neste espaço de tempo onde não há ninguém no mundo que possa preencher. Apenas aqui.
- Mergulho
É bom deixar claro que tudo tem seu tempo. Tudo chega na hora certa. É uma espécie de ilusão pensar que podemos controlar o tempo e o desabrochar da vida... o figo amadurece no seu tempo. Nem mais cedo, nem mais tarde. Acelerar o processo pode até antecipar algumas coisas, mas não vai durar por muito tempo. O único fator controlador responsável é nossa disponibilidade e disposição para mergulhar dentro de nós mesmos, observando com honestidade e amor, questionando, adquirindo cada vez mais autoconsciência com preocupação genuína, e assumindo total responsabilidade tanto para entender suas tristezas quanto para evoluir seus dons. *** E então, naquele dia que me conheci, pude entender que tudo é uma questão do que você se permite fazer. E aceitar. Ou não. E naquele dia, no intervalor entre o café e o vinho, houveram descobertas e autodescobertas, inteiros e metades, dádivas e migalhas, verdades e hipocrisias, parcelas genuínas e condicionais. Um cesto onde coloquei o que quero, o que escolho, aceito e permito. Ou não. O mundo é tão grande e as possibilidades são tantas e, no entanto, às vezes, as escolhas não estão em nenhum outro lugar senão dentro de nós mesmos.
- Tem coisa melhor?
Tem coisa melhor que se apaixonar e ser correspondido? Rir até perder o fôlego? Banho quente em dia frio? Massagem quentinha no corpo dolorido? Flores com um cartão romântico em uma terça-feira à tarde? Dirigir por uma paisagem nova e estonteante? Tomar caminhos diferentes? Deitar na cama e ouvir o barulho da chuva? Banho de chuva em um dia de verão? Ducha reconfortante e camiseta limpa depois de dançar à noite toda? Saborear uma pêra derretendo na boca? Beijos apaixonados? Encontrar o seu amor depois de incontáveis dias de conversas virtuais? Uma boa conversa com taças de vinho? Rir sem motivo? Saber o quanto você é especial? Lembrar de alguma coisa engraçada e gargalhar sozinho? E não se importar com o que os outros pensam? Acordar e perceber que você pode dormir por mais algumas horas? E sonhar com coisas boas? Fazer um sonho antigo se tornar realidade? Ir a um show que você sempre quis? Segurar na mão do seu amor e caminhar pela cidade? Encontrar um amigo antigo e perceber que nada mudou entre vocês? Assistir ao pôr do sol, Planejar uma viagem sozinha, Intimidade genuína, Se aceitar e ser feliz da forma você é, Combinar, experimentar, compartilhar... O carinho diário, O abraço noturno. Ter sonhos e planos para o futuro, Vivendo o aqui e o agora.
- Amor é permanência
Foi confuso até eu entender porque era você, mas depois não era, e depois era de novo. Foi aí que eu entendi e relutei bastante para aceitar: a gente muda o jeito de amar. Tem dias que o amor vira tédio. Vira raiva. Vira tristeza. Vira exaustão. Vira pão com ovo, vira pão sem ovo. Vira cara amarrada, vira bico e birra. Parece qualquer coisa, menos amor. Na minha opinião, esses dias em que a gente vê embaçado são os dias mais duros de enxergar, ou talvez os dias mais perigosos. Porque nesses dias o amor pode parecer qualquer coisa, menos amor. E se deixarmos ele ir embora, e usarmos a nossa imensa sabedoria para interpretar o que não tem significado, sem ler as palavras caladas, tomamos um caminho sem volta. Foi aí que eu entendi que o amor é a eterna permanência, nos dias em que o frio é dentro, e o olhar sonolento desiste da ternura.
- Dividir uma vida é bem mais que dividir um teto
Nesses últimos anos que temos nos falado, eu aprendi algumas coisas a duras penas. A vida passa tão rápido num piscar de olhos passaram-se muitos anos. Vivo muitas vidas dentro de minha vida. Foi triste perceber que passei parte de umas dessas muitas vidas junto com um alguém, compartilhando a mesma cama, não tendo mais nada para compartilhar. Compartilhando o propósito de construir uma vida juntos, e não notar que nos perdemos no caminho. Ter objetivos comuns, e ser tomado por objetivos individuais, e perder a identidade. Compartilhar uma vida é muito mais do que dividir uma cama, um quarto ou o mesmo código postal. É compartilhar os mais simples e mínimos detalhes... o caminho diário que traz a mais profunda intimidade. É ser curioso, ser gentil, ter interesse, ser gentil, cuidar e compartilhar... sentimentos, pensamentos estúpidos, risadas altas e o som do silêncio. Para surpreender e experimentar. Para apoiar. Para apoiar e se doar. Não é apenas ter objetivos comuns mas também e principalmente não invadir or impor os objetivos individuais: é respeitar. Respeitar o tempo, respeitar a opinião, respeitar o gosto, respeitar o sentimento e o espaço. Compartilhar uma vida é criar juntos uma unidade. Uma unidade que traz sinergia, ambas as partes como uma entidade única. Forte. Imbatível. Inabalável. Intransponível. Mesmo em meio a outras vidas. Compartilhar planos. Compartilhar pontos de vista. Compartilhar sonhos. Assumir riscos juntos e responsabilidades um pelo outro. Fazer planos, fazer coisas, fazer amor. Dar e receber. Compartilhar uma vida é encontrar o equilíbrio. O centro. A base. Compartilhar uma vida é prestar atenção aos pequenos detalhes. Fazer juntos ou fazer pelo sorriso do outro Sem esperar o retorno, o troco, a dívida. Ser o seu melhor. Dar o seu melhor. Sentir o seu melhor. Compartilhar uma vida é dividir a mesma cama todas as noites, e acordar de manhã desejando estar exatamente ali, não caber em nenhuma outra cama.