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  • Sinceridade.

    Sinto muito, mas não sinto tudo.

  • Soul free.

    And then said the sea to me: You look so sad... Take off your clothes, feel the breeze, And come to me.

  • A tua ausência

    Não estou aprendendo a lidar com a tua ausência. E mesmo repetindo por inúmeras vezes à minha consciência que sou forte e auto-suficiente, me vem o teu gosto e vem teu cheiro, me embebeda e me atormenta. Eu não tenho achado a cura para a tua ausência. Tudo que sinto é medo, tudo que vejo é breu, ora vazio e lacuna, esse teu espaço que era ao meu lado, que eu não deixo alguém ocupar. Tento não pensar, e tento não lembrar, tento esquecer, e tento te perder. Tento me adaptar a te deixar... mas eu te amo tanto, em todas a coisas, em todos os lugares, em todos os sonhos, em todo verbo. Eu que era forte, que era auto-suficiente, não tinha ideia de como poderia também ser tão frágil, tão sua. Mas o tempo vai curar tua ausência, buscando nas minhas virtudes a paciência, e recursos para viver sem a tua presença, e sem a tua quentura, sem tua doçura, sem esse seu tão puro, que nem sabe a força que tem.

  • Vida, sem vista.

    Vida. Vida que se prende, vida que mal cheira e que não tem cura. Vida que nada procura. Vida só de pêsames, só de amargura. Com castas, com claustrofobia. Vida de falsas alegrias. Vida dupla. Vida de cinismo, de machismo, de achismo. Medíocre vida. Vida que pesa regras e não pensa simples. De magia falsa, de falso olhar. Olhar embaçado, curta vista. Vida mais que sóbria, porém cega. Tão sóbria que deixa de ser vida, Torna-se obrigação de viver. Vida to ter. Como assim, amar tal vida? Uma vida que é fria, frigida, frouxa? Que é indiferente a tanto? Que tem castas, E que é suja? (manuscrito de Maio/1993)

  • Laboratório da compaixão, experimentos.

    Exp.1 - A relação com o comer Comer devagar, mastigar dançar com talheres, envolver o alimento é sentir, deixar a boca tocar, esperar a quentura passar, uma curta espera, necessária. se esperar demais o tempo pode virar. Imaginar, e sentir. combinar, e experimentar. Absorver. Um ritual de dança e de acasalamento. Devorar o prato embaralhar, sonorizar. Bater talheres, limpar dentes com os dedos. assoar o nariz engolir. Uma luta com o alimento, vamos ver quem pode mais. Uma pressa que às vezes queima a língua, o gosto, o prazer. absorver calorias, pra depois queimar. Um ato, o ato de engolir. - Por que você come tão rápido? -Não percebi. -Sente o sabor da comida? sente a textura? O ritual da dança demora de três a quatro vezes mais tempo que o ato de engolir. Enquanto o ritual da dança gera impaciência no outro, o ato de engolir gera angústia. ……… Pequenas tentativas infundadas não sucedidas, nem bem, nem mal. Praticar a compaixão no ato de comer foi um experimento longo árduo cansativo um desistir de dividir a mesa. às vezes me acelerou, mas me contive para não mudar fazer do rito um ato. porque temos mania de adaptar, sem discernir. Conclusão do experimento - é necessário abstrair, desconsiderar o ato do outro anular as possíveis impressões, e mergulhar em dança solo no ritual dos sentidos.

  • Sobre a linha de pescar

    Ningu ém me contou isso sobre a linha de pescar quando eu era criança . Quando somos crianças é muito mais fácil falar dessas coisas. Mais fácil aprender. sobre as coisas sutis, sobre como percebê-las, não apenas como reconhecê-las, mas como aceitá-las, ou não. Esse tipo de aprendizado deveria ser acadêmico, essencial e curricular, como muitos conteúdos inúteis são, para calibrar a discrepância do que ensinam os criadores aqueles que nos dão comida e banho quando ainda não conseguimos nos limpar ou ir ao supermercado, em diferentes lugares do mundo, idades, e seus repertórios de vida. Essas coisas são universais talvez devesse ser classificado como ciências aplicadas para a vida ou um capítulo chamado "lições para a vida inteira" parte das aulas de história, geografia, física, matem á tica, e biologia. não. Uma nova matéria mandatoria em todas as escolas do mundo. a primeira aula, o sol é para todos e o que se tira dele é o que se ganha dele. a lei da ação e reação aplicada no corpo humano. Uma fina linha e quase invisível, como a linha de pescar. Se eu tiro dele a minha beleza, probabilidade de ganhar câncer. Se eu tiro dele alguns poucos raios matinais probabilidade de ganhar vida. Se não tiro nada probabilidade de ganhar osteoporose e inflamações. Isso é tão importante quanto aprender sobre a magnitude do sol. Lição muito similar se aplica às relações humanas nesse caso com mais regras a serem aplicadas de soma, subtração, multiplicação, raiz quadrada, e exponenciais. quando um faz do outro um veículo para carregar um ego, perde-se uma vida inteira. ou duas. quando se cresce filhos para resolver débitos próprios, fracassa uma vida inteira. Alguns fatores se aplicam em quase todas as equações, muitos são derivados do ego ego-ismo ego-centrismo parece pouco, mas vem tudo carregado de formas de regras ilusórias de traumas. subtrair compaixão, potencializa o ego. adicionar raiva, potencializa cegueira. e por aí vai. Foi o que aconteceu com as duas meninas, Mariana e Gina. Elas se conheceram quando eram muito jovens tão jovens, mas tão jovens, que não puderam fazer experimentos de vida não desenharam suas próprias réguas que usamos para medir limites poderia funcionar, mas não. Porque a vida de uma delas já estava perdida pelos pais que subtrairam a comunicação, deram tantas coisinhas bonitas e úteis e um gigantesco espaço para o ter. Mariana era uma adulta que nunca passou das aulas do primeiro ano do fundamental da vida, onde os cuidadores acariciam a pele, limpam, contam estórias de ninar, ela perdeu as lições fundamentais. Gina não teve tempo de ser exposta às lições da vida, ela perceberia que nunca daria certo e pularia fora desse barco. mas não. Casaram nos padrões, com as tradições de véus e grinaldas, tiveram uma filha nos padrões e Mariana nem queria ter filhos mas o ter era tão presente nela que foi. Melhor ter que não ter. Deixaram a vida seguir e a equação potencializar e transbordar todo o ruim passado para a filha subtraindo comunicação, era o que sabiam dar, e adicionando coisas novas, como imposição das vontades que nunca puderam ter, que presente e tanto viver a vida dos pais. Manoela, uma menina cheia de curiosidade de fome de vida de energia solar Foi devagarinho sendo contaminada pelo ter bloqueada pelos limites do poder e não poder por pré-conceitos por pré-ocupações que ela acabou se apropriando e acreditando em tudo. e por expectativas e mais expectativas, pobre menina se cobriu de longos cílios, de uma boca carnuda e sintética, de alguns músculos aqui e ali, de seios fartos e bem pagos, boas notas, tinha que ser a primeira sempre e ganhar prêmio de vez em quando para não desapontar expectativas, em tudo. um troféuzinho. e foi crescendo sem crescer, e foi amando sem amar, e foi querendo sem querer, seguindo padrões que não entendia, tudo para esconder a conta que não fechou o resultado que deu negativo. Uma equação de três vidas perdidas. Mas todo mundo viveu ou viu ou ouviu alguém contar sobre essas equações descalibradas pra mais ou pra menos, quando não se percebe a sutil linha onde podemos decidir o que aceitar e o que não. O que mais aluga tempo na minha memória são as equações que tiraram algo de mim, ou que tirei ou que colocaram mais do que eu precisava. Que por excesso de atenção, resultou em sufoco. Que por excesso de controle, resultou em pânico. Que por escassez de troca, resultou em abandono. que por doses de afeto puro, de um adulto bem formado, e eu sem saber lidar com aquilo tudo, resultou em fuga. e a mais impregnada de todas, uma relação de trabalho, que por excesso de tentativa de abuso sexual de um velho casado com uma mulher bonita, e com filhas pequenas e eu sem saber lidar com aquilo tudo, resultou em nojo, em silêncio, em uma mudança de rota, em fuga, e a exaustão mesmo antes de começar uma carreira em uma área que eu tinha escolhido, por imaginar que eu teria que lidar com isso o tempo todo, com pessoas descalibradas assim que nao queria ter nojo de gente de novo, esse era um lugar que eu queria estar, falei para mim lá não.

  • Simples assim

    Quer saber mesmo o que é bom? Bom é olhar nos teus olhos toda vez que eu acordar. É velar seu sono, estar nos seus sonhos, nos seus planos, e você estar nos meus. É sentir seu aconchego, seu cheiro, seu chamego. Te contar meus êxtases, minhas bobeiras, minhas neuras, e até minhas loucuras. É ouvir o teu silêncio, chorar no teu colo ou explodir de felicidade no encaixe perfeito do teu abraço. É sentir teu respeito, a tua admiração, o teu desejo, e a tua confiança. É sentir tua segurança, segura quando estou ao seu lado. Bom mesmo é te amar, e amar, e amar... sem me preocupar, ou me ocupar, com nada. É perceber satisfação plena nas pequenas coisas. É observar e fluir, relembrar o que vivemos, e olhar o presente como dádiva divina, e por isso vivê-lo. E não duvidar que o que está para nós é o futuro. É querer envelhecer junto, aprendendo e ensinando coisas novas, dividindo, e ter a certeza de que é assim que eu preciso, que é assim que eu me vejo, e saber que você também vê assim, que precisa disso, e de mim.

  • Descobertas no beco sem saída

    Naquele dia que a gente se bateu de frente de novo, bem face a face, tarde da noite, e todas as coisas se dispersaram, mais ou menos como chama fraca quando bate o vento. Foi um ímpeto pulsante, agonizante, e cinzento, alguns laços se soltaram naquela horas, beijos selaram-se, relembramos como movem as paixões, foram tantas paixões! O gosto era como o de antes, naquela época dos namoradinhos. Foram tantos os namoradinhos! De todos os sabores, cores, e tamanhos. Alguns mais quentes, outros mais sonsos, alguns mais crus, outros bem-passados. Lembramos como era viver experimentando, sem regras ou limites, sem lugar para dormir, ou acordar. Tudo passageiro, desordeiro, estrangeiro, sem sobrenome e sem roupa, como fazíamos antes, um corpo que vaga, que dá um gole, que se entrega. E veja só, hoje eu acho que não tem nexo. Como pode um ser, de tão livre que era, virar nuvem escura que foge o prazer, um corpo oco, opaco, e ocidental, controlado, cheio de divisas, de limites, cheio de dedos, e de condições. Uma pena não poder desaprender crenças, traumas, apagar esses tantos experimentos tóxicos, e voltar a ser livre, voltar a ser antes. Voltar a explorar a cidade, sem conceitos e pre-conceitos, sem esses filtros em preto e branco. Descobrir a cura para essa bobagem de se proteger, de negar água ao que esta sedento de vida. Deixar de ser presa de si, voltar a ser dança, e abrir aquela pequena passagem desse beco sem saída.

  • Meu amigo

    Foram tantos, passageiros. Foram poucos os inteiros, mas pra que mais? pra que dez? se só trazem metades, ou um torto viés? Quero nada, quero tudo. E pra você tá tudo bem. Passa dia, passa mês, e passa ano, E dia desses você vem, dia de sol, ou noite de chuva, e fala tudo, ou fala nada, e nada importa, e nem ninguém. Amigo é casa, amigo é colo, amigo é porto, amigo é solo. Amigo é juiz sem julgamento, é a roupa mais confortável, a viagem mais gostosa, pra perto ou para além. Amigo, irmão de pele, com sangue de cor diferente. Espelho que reflete a dor e alegria da alma. Canto que acolhe, ou que empurra pro mundo, sem filtro, sem dó. Força que atrai e que harmoniza. Meu amigo. Meu. Dificil dividir você com alguém. Amigo que me distrai e me segura, te visto a qualquer hora, em qualquer ocasião. Dia e noite, Sol e Lua, para me cobrir de qualquer perigo, ou me expor para qualquer alegria. Amigo, meu lado forte, minha coragem, meu enigma, meu signo, minha sorte. Amigo de festa, amigo de sono. Amigo de farra, amigo de esporte. Não tem dia, nem hora, nem sorte. O aqui e o agora, e o ontem, e o amanhã, fazendo laços, pintando imagens, que ficarão para sempre, esculpidos, na memória.

  • Você é tudo e você é mundo.

    Amo tanto, amo cheio Amo quente E amo o feio, amo sem mão dupla, e amo longo, amo calmo, e amo logo.

  • A ressaca do adeus

    E no final das contas você se foi. Se foi por que? se sempre jurou companhia para o resto da vida? Se foi para que? se sempre disse que felicidade maior que não existia? Se foi para onde? se meu aconchego te satisfazia? Agora é que percebo os detalhes que mudaram. A Lua não brilha mais para os meus olhos, nem o Sol, nem o sim, nem a flor, nem o luar, nem escuto o som. Acabou o amor, impregnou a dor. Não vejo a cor. Passa um dia, dois, três, dez. Só não passa a água salgada aqui dentro, um choro dolorido porque já não existem lágrimas, um choro seco, um desalento. Isso sim é sofrimento. E então, por que você se foi? Se não havia rotina, se nao havia mentira, se não tinha motivo? É, hoje eu escuto tudo o que foi dito foi bem da boca para fora, palavras jogadas como inseticida, ou como qualquer coisa que se possa jogar para o alto. O pior eu percebo. Que lamento ter acreditado que felicidade maior nao existia. Acreditado em planos, em passar os anos. Me dou conta que é difícil esquecer, da nossa curiosidade aguçada, do seu cabelo sempre lavado, da nossa quietude no som da musica alta, da sua gentileza para não importa quem. Bem difícil continuar essa caminhada, com duas pernas faltando, e um coração pela metade.

  • Fim

    Fim, talvez de uma pequenina infelicidade, ou de uma situação. Ou, quem sabe, de uma mágoa. Fim de nada. Fim de tudo. Mas, é óbvio, claro, e inevitável, fim de uma doce loucura, que durou 28 dias, quase quatro semanas, de êxtase e inconsequentes fissuras. Fim da surrealidade, fim da falsa lucidez. Adeus para as garotas aventureiras, adeus para os olhos teus. Este é o fim de um curto tempo, é o fim da farra, é o fim do mês. nota: manuscrito de Fevereiro de 1991, após o termino do Carnaval.

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